Se ficar um tempo assim um pouco mais longo sem falar de Spinosa, penso que os aborrecimentos do cotidiano jamais serão breves como a vida.
Se ficar um tempo a mais sem falar de Drummond, de Cecília, de Quintana e de quintal, será um tempo seco, sem aquele caudaloso sentimento de doçura e de amizade que vigora na contemplação da saga das coisas.
Se ficar um tempo a mais sem falar de Drummond, de Cecília, de Quintana e de quintal, será um tempo seco, sem aquele caudaloso sentimento de doçura e de amizade que vigora na contemplação da saga das coisas.
Se ficar um tempo sem Cora Coralina será como um tempo sem perdões, sem pardais e sem doceiras para adoçarem as nossas bocas, e sem a ventania, o orvalho, sem a neblina e sem o sol aquecendo as telhas.
Se ficar um tempo sem poemas, sem um livro, sem uma doce canção, será um tempo árido, meio brusco, sem a quentura das palavras pronunciadas num aconchego de amizades sinceras.
Se ficar um tempo só, um tempo miúdo que seja, sem rabiscar uns versos, sem ler um gibi daqueles em P&B, com aventuras para não se esquecer, será um tempo sem graça.
Se ficar um tempo sem dizer frases de amor, sem abraçar e sem buscar lábios para beijar, será um tempo sem asas e azuis.
Se ficar um tempo sem sorrisos e sem roseiras, sem conversas e declarações aveludadas nas cantadas dos recantos das noites, será um tempo sem motivações, sem conquistas e sem tesouros.
Se ficar um tempo sem falar sobre as injustiças do mundo, sem angústias pelas violências contra a humanidade, será um tempo sem cores e sem crenças na inabalável força do amor.
Se ficar um tempo sem ir ao cinema, ao parque de diversões e sem ver as espumas do mar, será um tempo sem aventuras e ternuras,
Se ficar um tempo sem brincar ou apenas contemplar as crianças que brincam e correm, os meninos com seus carretéis, e as meninas no Adoletá, como borboletas zonzas de luz, será um tempo sem aplausos, sem gargalhadas e sem claridade no rosto.
Se ficar um tempo sem cantarolar, sem cochichar frases tímidas e gloriosas, será um tempo sem uma réstia luminosa de verbos encantados e sem ramalhetes.
Se ficar um tempo sem Jorge Amado, sem Clarice e sem Florbela Espanca será um tempo vazio, sem o conhecimento da dimensão que norteia a alma para a grandeza que passa.
MARCIANO VASQUES
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