É a cor do céu nas primeiras horas da manhã

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

ANOMALIAS NA TELA DA GRANA

Não era uma vez. 
Pudéssemos articular uma consciência de tal amplitude que viesse a barrar a "força da grana que ergue e destrói"...
Intelectuais e escritores, alguns, irão se manifestar numa "militância" poética que Hollywood, a infinita fábrica de sonhos, contemporaneamente é especialista em desprezar.
Muita grana sim. E lá vem uma enxurrada de filmes novos dentro do pote contemporâneo, que pote nada!, rio de ouro, mais do que uma mina, uma pororoca que transbordará em dólares pelas telas do mundo, amparada na cumplicidade dos Mcs e as Megas de todos os cifrões.
Mina de ouro? Sim, tudo começou com "Alice". Tim Burton deu a arrancada. Numa bela produção. E a jovem se esbaldou no mundo das maravilhas.  Uma nova era chegou ao cinema. Os contos de fadas ressurgem agora para adolescentes e adultos e crianças, multidões subvertidas, seduzidas pelo afã da "modernidade". 
Não seremos politicamente corretos (Essa é a moda!) se nos voltarmos contra o modernismo, não devemos estagnados viver, poderão dizer alguns,  num ciclo de pensamento que provavelmente fará lembrar de alguém da cultura de massa, que quando era analisada por jornalistas e intelectuais comprometidos com o bom senso, respondia: "É inveja!". Então, exercer o produtivo exercício da crítica que não apenas forma opiniões, mas faz a reflexão entrar numa urgente e necessária valsa, passou a ser inveja. 
Agora o cinema descambou de vez. O dinheiro não tem perdão, mas orienta o tempo, a vida, o espírito.
Blocksbusters. A tela promete.
Entre os novos filmes 'inspirados" nas riquezas do público infantil, estão "João e Maria: Caçadores de Bruxas". Outro é "Pan". Se nem a Branca escapou!...
O petisco no tesouro da petizada foi  "Deu a louca na Chapeuzinho", e então, deu a louca no cinema. 
O importante é manter a infância ativamente ocupada nos tablets, nos ipads, nos games, na Internet, num amplo manancial, que "contemple" as necessidades naturais e primordiais da criança,  entre as quais, além de correr e brincar e se movimentar muito para justificar o predileto gosto pelo doce, está a imaginação. Eis a fonte, a riqueza maior: a imaginação, indo para o beleléu.
Então, vamos ao cinema.
"João e Maria: Caçadores de bruxas" é mais do que um mal disfarçado, uma alegoria do espírito da época. Virou grana? Enriquece? Manda ver!
Pode ser que até apareçam psicólogos ou filósofos, educadores e pedagogos, escritores, jornalistas, defendendo, justificando, argumentando, até em textos acadêmicos. Mas...
"João e Maria: Caçadores de Bruxas", destrói muito mais do que possa supor o olhos atentos de toda a vã consciência. Quinze anos após escaparem do caldeirão e assarem a bruxa no forno, os dois irmãos se dedicam a caçar de forma brutal e cruel as bruxas. Violentos, mas são caçadores de bruxa!
Tem toda uma mitologia a respeito da bruxa, mas tem uma história real dos motivos pelos quais essas mulheres foram queimadas na idade média sob o manto das fogueiras erguidas pela Santa Madre Igreja. E tudo isso agora, com os dois irmãos na telona,  corre o risco de se dissipar no memorial dos que insistem em preservar.  
O cinema transformou-se numa aparentemente invencível usina de maluquices que não terá um só chapeleiro como concorrente. Pudera! Milhões de consumidores, entorpecentes de consciências numa  fascinante e irresistível maquiagem...
Tivemos produções que valem a pena, como a história da Rapunzel. Desvirtuou? Adaptou? Modificou? Naturalmente. Mas não se tornou uma anomalia. Ao contrário, preservou e até acentuou o encantamento, sem a intenção de substituir a história original. 
Todavia João e Maria estão chegando, estarão nas telas no aniversário de São Paulo. Cruéis, violentos em seus métodos, como a eles já me referi. Não há inocência na falta de referências em nosso cotidiano, não há neutralidade nos que aparentemente a nada  se referem ou aos que só ferem algo precioso que estamos deixando escapar pelo ralo do desmanche.
Se João e Maria caçam bruxas com métodos sangrentos, "Pan" é pior. Foi transformado num Serial Killer, um psicopata. Um jovem sedutor que assassina crianças. E o Capitão Gancho é o herói: O policial, o detetive que irá perseguir o belo jovem pedófilo. Sim, é isso! Brevemente, ainda em Janeiro, os terríveis irmãos caçadores de bruxas, e em 2014, "Pan", o eterno Peter Pan, que ressurgirá matando crianças, mas terá em seu encalço o astuto e persistente agente da lei, o Capitão Gancho. 
Talvez eu tenha sido profético quando escrevi:"Deu a Louca no Cinema", mas creio que o baiano ao cantar sobre a "força da grana" estava mais certo. 
O importante é que o "Era um vez" talvez nem seja mais. Enquanto existir caçadores, essa deformação irá prosseguir. "Branca de Neve e o Caçador" terá continuação. E vem mais por aí. Segurem-se Andersen, Grimm, e vamos ao cinema!


Marciano Vasques

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