A ÚLTIMA GUARIDA
—Serei eu grou?
—Do que fala, meu
querido?
—Fique em paz.
—Estive pensando,
Sapabela...
—Eu sei.
—Nem falei ainda!
—Eu sei que esteve
pensando...
—Enquanto coava o
café...
—Coar o café é
preparar os grãos da conversa, não é?
—Sim, e por isso
estou aqui...
—Esta ligação é
tão benéfica para mim. Mas, esqueça essa história de grou...
—Sapabela, a última
guarida...
—O que tem a ver?
—A última guarida
está sempre no sapo, dentro dele, nele...
—O último refúgio...
—Lampejos são
grandes manifestações do Ser... Às vezes, só precisamos de um
lampejo...
—Com efeito.
—E quando o sapo se
sentir cabisbaixo, ou abismado na ponta de um abismo, basta ter a
esperança de um lampejo e poderá aprender que a última guarida
está nele mesmo.
—O lugar mais difícil
de se procurar os tesouros essenciais...
—Isso mesmo. Dentro
de si. Em quaisquer circunstâncias, olhar para dentro de si mesmo é
a grande saída...
—A saída está
dentro...
—Exatamente... Se o
sapo se volta exclusivamente para fora, sentira a extraordinária
necessidade do retorno...
—Rospo, já terminou
de coar o café?
—Obrigado, Sapabela.
—Do que afinal me
agradece?
—Por ter me ajudado a
semear a conversa.
—Você que ligou!
—Mas se você não
tivesse “ligado”, de nada adiantaria isso.
—Rospo, falando em
última guarida, entrar em si, isso para você não é problema...
Afinal, é especialista, um exímio caçador, o grande aventureiro de
si.
—Falou a voz dos
tempos, que é a voz do grande contador de histórias...
—Que nada! Sou apenas
uma Sapabela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário